sábado, 16 de dezembro de 2017

PORTUGAL | O PSD do multibanco e da má língua

Domingos de Andrade* | Jornal de Notícias | opinião

Rui Rio e Santana Lopes deveriam estar preparados para vencer dois grandes desafios na corrida à liderança do PSD: reconciliar o partido com o país e ter uma ideia de futuro. Ganhe quem ganhar, que é o objetivo último, os dois já perderam onde não podiam perder. O caminho do próximo líder será sempre mais difícil.

Tudo o que podia correr mal está a correr pior. O debate enviesado e de dentro para dentro, e não de fora para dentro. Os ataques diretos, ou por via da libertação de informação para tentar comprometer o adversário. A fronteira ténue entre o que defendem as candidaturas, resumindo a disputa eleitoral à escolha de um perfil com base num cenário presente em que ambos estão fora do contexto.

Explicando. O que é que Rui Rio, alavancado na mensagem do rigor das contas que todos lhe reconhecem, tem para oferecer a um país que atravessou os dias duros da troika com um partido no poder que anunciou o descalabro quando saiu do poder? E cujo discurso, esvaziado pelos sucessos europeus de Mário Centeno, se aparenta tanto com o passado?

E em que é que Pedro Santana Lopes, o afetivo, se diferencia tanto do "menino guerreiro" primeiro-ministro, que deixou o país de todas as cores a suspirar de alívio com a sua saída do Governo, apesar do lastro que entretanto os anos com certeza lhe deram?

Não basta aos dois candidatos juras de recentrar o partido, descolando-o da Direita onde ambos negam que esteja. Ou maiores promessas de equidade social, olhando mais para as camadas desfavorecidas da sociedade, os idosos, as crianças, o número elevadíssimo de pessoas que sobrevive à conta dos apoios sociais.

E não basta porque o Governo PS, suportado pelos partidos à sua esquerda, tem uma existência fundada na ideia de devolver aquilo que foi retirado. Ao Governo PS basta ter os ventos da economia a soprar favoravelmente e não cometer muitos erros. O que, convenhamos, não tem sido tarefa fácil nos últimos meses.

No fim de contas, o que a campanha interna do PSD evidencia é que tudo se resume aos sindicatos de votos e à capacidade que cada candidato teve de mobilização no pagamento de quotas. Para chegar ao poder. É a campanha do multibanco e da má língua. Não podia haver pior para expor a cegueira de um partido.

*Diretor-executivo do JN

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